Neste Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, a empreendedora Neusa Venturim conta um pouco da história da família e como os pais foram fundamentais em sua carreira.
Como tudo começou.
Hoje é o dia do empreendedorismo feminino. Um dia que visa encorajar mulheres a liderarem seus próprios negócios. Apesar do crescimento das mulheres no mercado de trabalho, há vários obstáculos ainda a serem enfrentados para que as oportunidades para homens e mulheres sejam equivalentes.
Me sinto privilegiada, pois desde cedo fui incentivada pelos meus pais a buscar empreender e eles sempre acreditaram que eu e minhas irmãs éramos tão capazes quanto nossos irmãos, de comandar os negócios.
Por isso quero compartilhar aqui um pouco da minha história e como meu pai foi fundamental no despertar do meu espírito empreendedor e de meus irmãos.
Somos descendentes do Amadeo Venturim, primeiro imigrante italiano a chegar em Venda Nova do Imigrante, ES. Ele se casou com Giacoma Faustina Vadagnin, em Pedavena, Belluno e juntos tiveram 10 filhos. Um dos filhos foi Francisco Venturim, que veio a ser meu avô, pai do Euzaudino Venturim, nosso pai.
Chegaram como todos os imigrantes, com “uma mão na frente outra atrás”, ou seja, buscando terra para plantar e ter o que comer.
Anos de luta, muito desbravar, muito trabalhar, muita dificuldade.
Mas ali já tinha empreendedorismo: Na Itália a família estava passando necessidade...Com as informações que chegavam do Brasil, sobre ser uma terra próspera, para cá vieram buscando melhores condições de vida.
A Família do vovô Francisco Venturim com a nona Vitória Perim se tornou numerosa, ao todo tiveram 20 filhos. Continuavam com todas as dificuldades da época, vivia-se com o que plantavam e uma barganha cá outra lá. Com pouca possibilidade de negociação, o dinheiro era muito difícil.
Meus avós foram ficando mais cansados e o espírito empreendedor do nosso pai Euzaudino se pôs à frente da Família.
Muito corajoso, foi movimentando o pouco que tinham, muitos irmãos já tinham constituído família e seguido seus caminhos e outros ainda ficaram no comando dele.
Ainda muito novo se impôs como líder que era e teve atitudes de acertos e erros, mas conduziu como conseguiu até todos os irmãos seguirem seu caminho.
Casou- se com nossa mãe Josefina Paste Venturim; Mulher sem palavras suficientes para definir: guerreira, trabalhadora, dedicada, companheira, parceira, nosso esteio de fé e temor a Deus. Dessa bela união vieram 09 filhos que ficaram sob o seu comando.
Com sua determinação, sendo criado com a formação da época ele era estilo patriarcal autoritário (Bravo. Quanto passar aperto!). Ele tinha tudo no controle, foi nos conduzindo a valorizar a “terra”, cuidar do “patrimônio “, dar continuidade ao nome da família, ser trabalhador, fazer com orgulho, desbravar, ser voluntário… E a mamãe garantido que todos fossem obedientes e dedicados.
A maior preocupação sempre foi em não deixar a família passar as dificuldades que ele passou.
Constituiu com os filhos, sempre como principal e mais explorada mão de obra, bens onde mandou, acompanhou, puxou orelha, até cada um seguir sua caminhada, e a mamãe dava seguimento a todas as determinações. Tudo que era possível plantar era plantado e a colheita levada para o Restaurante e Hotel Esmig (Na época o posto e restaurante Família Venturim ainda não tinha sido fundado), produtos sem atravessador, e a mamãe garantia que tudo fosse plantado e colhido na época certa.
Papai nos ensinou tudo o que sabemos sobre: sair na frente, trabalhar na hora que os outros descansam, o segredo é a garantia do negócio, manter a porta aberta porque o cliente conta com a gente na estrada, “temos um compromisso com o cliente!” E tantas outras sabedorias que adquiriu com o tempo.
Quando perguntávamos se errava ele dizia: “Só se conta o que dá certo, o que deu errado ninguém precisa saber.”
Muito arrojado este nosso pai: as pessoas o procuravam para conselhos, negociações, compras, vendas, contar sobre mercado, economia, como era o lugar que viajavam, como eram as pessoas por lá...Enfim, o que não sabia, perguntava e assim recebia todas as informações enquanto trabalhava no caixa do Restaurante e Hotel Esmig. Graças a tantos bate-papos, mesmo sendo semianalfabeto conhecia mais do mundo e das pessoas do que muitos doutores e viajantes.
Sendo um comerciante nato e abastecido de todas as informações, fazia negócios com muita facilidade. Sempre tinha um dinheiro ao alcance para não perder (um bom negócio…uma oportunidade de ganhar o dobro). Parecia que tinha bola de cristal, uma intuição, gostava de dizer: “Tenho uma Estrela que me guia”. Homem de fé, mantinha suas orações da forma que se entendia lá com Deus. Terço sempre no bolso e pronto para prestar assistência a quem necessitava na estrada, passando por Venda Nova do Imigrante e claro, aproveitando para ganhar mais uns trocados.
Comprava as propriedades com planejamento, calculava exatamente o tempo que entraria o dinheiro, ou da venda do gado ou da venda do café, e a propriedade se pagava.
Comprava uma área aos arredores de Venda Nova e já começava um loteamento, que multiplicava em muito o valor.
Comprou muitas antiguidades de moradores da região e revendia ganhando um bom dinheiro com os negócios.
Em nossa caminhada agora, cada um com sua família, todos herdamos do empreendedorismo do papai, cada um na sua condição e determinação, mas fomos bem treinados e tivemos um bom exemplo a seguir.
Ainda em vida papai dividiu tudo conforme sua avaliação: igual para todos.
No nosso caso, eu e minha irmã Ana Venturim, recebemos nossa parte em 1994 quando herdamos o Posto Venturim que ainda não era um empreendimento lucrativo. Com muito trabalho e as orações e apoio total da mamãe, fomos dia a dia construindo o que temos hoje.
Os desafios foram inúmeros, mas quando pensávamos em fraquejar vinha a frase do papai: “Cuida da família e do nosso patrimônio”, e assim buscando forças para superar nossas limitações, fomos sendo obedientes.
Passamos pela troca de moeda, tempo da URV, mudanças com o plano Real, partida do papai em 2004, anos de recessão econômica, pandemia, partida da mamãe em 2020, outras grandes perdas…
Mas aqui estamos, agradecidos a Deus pelo dom da vida, pela oportunidade de gerir os bens que Ele nos entregou para cuidar, sim, acreditamos que tudo é Dele e nesta vida somos mordomos que administramos aquilo que Ele nos confiou.
Como todo negócio, tivemos ganhos e perdas. Alegrias e tristezas.
Para mim, empreendedorismo é se reinventar a cada dia, é iniciar o dia sabendo que com ele nascem desafios novos. É sempre estar atento às necessidades que cada dia traz e desejos de cada cliente que procuramos satisfazer.
Empreender é mais do que descobrir um novo produto ou serviço; é ter cada produto ou serviço renovado a cada necessidade. Estar atento às tendências de mercado e da economia.
É estar atento às necessidades dos colaboradores, às mercadorias, equipamentos, arrumação, como está a limpeza e a iluminação. É estar atento ao calendário em cada época do ano, é prevenir para receber bem cada cliente.
Enfim, empreender é respirar o empreendimento, é colocar o seu melhor, é fazer com amor, dedicação e inspiração. Ser empreendedor é ter múltiplas funções.
E é por isso que nós mulheres, modéstia à parte, arrasamos!
Parabéns a todas as mulheres empreendedoras!
Parabéns e sucesso sempre!